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19/09/2025
Vem aí a segunda edição da Caminhada da Memória, com o tema: o rio Potengi
10/06/2025
POR DENTRO DA BAM: O dia a dia e os bastidores dos projetos da Casa da Memória | 9ª Semana Nacional de Arquivos
Neste vídeo especial que inaugura a série da 9ª Semana Nacional de Arquivos (SNA), o Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte (IHGRN) convida o público a conhecer os bastidores da Casa da Memória, espaço vital para a preservação da história e da cultura potiguar.
Com apresentação do Diretor de Acervo, Matheus Pereira, e da Diretora Adjunta de Acervo, Mara Gabrielly, exploramos o dia a dia da instituição, os projetos em andamento, os planos futuros e o compromisso contínuo com a valorização da memória histórica.
O vídeo também conta com a participação dos colaboradores Marcus Vitor, Franklin Lima e Luis Eduardo, que compartilham suas experiências nas atividades desenvolvidas na biblioteca e no museu.
Este é o primeiro episódio de uma série que visa aproximar o público das ações e projetos realizados pelo IHGRN durante a 9ª SNA e ao longo do ano.
Inscreva-se no canal do IHGRN e ative as notificações para acompanhar esta série e ficar por dentro de novas iniciativas da Casa da Memória.
09/04/2025
O DIA NACIONAL DA BIBLIOTECA
O DIA NACIONAL DA BIBLIOTECA
Marcus Victor Siqueira Josuá Gomes
Graduado em Biblioteconomia e mestrando em Ciência da Informação pelo PPGCI/UFRN. Membro do Grupo de Pesquisa: Estudos Críticos em Biblioteconomia e Ciência da Informação (ECBCI/UFRN). Bibliotecário do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte (IHGRN).
“A história da biblioteca é a história do registro da informação, sendo impossível destacá-la de um conjunto amplo: a própria história do homem”
(Milanesi, 1983, p. 16)
No dia 9 de abril se comemora o Dia Nacional da Biblioteca, em razão do Decreto n.º 84.631 de 9 de abril de 1980, que foi responsável por consagrar a Semana Nacional do Livro e da Biblioteca no mês de outubro, assinado pelo então presidente João Figueiredo. O dia 9 de abril, data do decreto, passou tradicionalmente a ser comemorado como o Dia Nacional da Biblioteca. A importante data reflete um momento de celebração e reverência a esses espaços, que são, sobretudo, responsáveis pela democratização do acesso à informação. Bem como, na construção do pensamento crítico dos sujeitos, uma vez que ao se apropriar do conhecimento os indivíduos provocam, em sua realidade, transformações humanas, culturais, sociais. No Brasil, o primeiro curso de Biblioteconomia surge em 1911, criado pela Biblioteca Nacional, tendo iniciado oficialmente em 10 de abril de 1915. Outro importante marco histórico de regulamentação das bibliotecas e do bibliotecário foi a Lei 4.084/1962, que dispõe sobre a profissão de bibliotecário e regula seu exercício.
É importante ressaltar que na chamada sociedade da “pós-verdade” (ou o que alguns autores chamam de “infodemia”), em que se arrefece cada vez mais a checagem das informações e se promove a disseminação de desinformação e fake news, as bibliotecas e os bibliotecários são fundamentais no combate dessas práticas, pois promovem reflexão e uso crítico das informações em qualquer ambiente, os pesquisadores Edmir Perrotti e Ivete Pieruccini acreditam que o antídoto a esse nova realidade está no que chamam de Infoeducação (Perrotti; Pieruccini, 2007), isto é, uma prática biblioteconômica que “pretende ser reflexiva e compromissada com a formação de seres autônomos, críticos e criativos [...], que lhes permite escolher posições e relações a serem estabelecidas com a ‘era da informação’” (Perrotti, 2017, p. 16). Segundo o pesquisador e professor Oswaldo de Almeida Júnior (2016), o objeto da Biblioteconomia é a mediação da informação, portanto, cabe às bibliotecas o papel de não somente guardar e organizar o material bibliográfico, mas também, disseminar, interagir, criar, refletir. O autor e acadêmico mexicano Felipe Meneses-Tello contribui teoricamente no mesmo sentido em que pensa Oswaldo de Almeida Júnior, ao dizer que: “em geral, o objetivo das instituições bibliotecárias é superar o seu estado monolítico para se tornarem bibliotecas multiculturais. Instituições que promovem a justiça social e o respeito pelos direitos humanos” (Meneses-Tello; Tanus, 2023, p. 6). A partir das falas dos experientes pesquisadores, podemos, então, situar a toda comunidade os desafios da Biblioteconomia diante da nossa atual sociedade.
Desse modo, a Biblioteca Peregrino Júnior, que pertence à Casa da Memória, tem como prioridade a preservação do acervo bibliográfico e arquivo, bem como a disseminação desse material para o acesso público. A nossa biblioteca passou um período fechada e, a partir de 2017 foi reativada, havendo nos anos seguintes a contratação de bibliotecários, o que contribuiu bastante para um eficiente trabalho no que diz respeito à guarda, preservação e organização de todo material informacional e histórico. O nosso acervo tem sido organizado e classificado de acordo com a Classificação Decimal Universal (CDU) – um conjunto de normas e regras reconhecidas internacionalmente que auxiliam bibliotecários e documentalistas a organizar o material da forma mais ordenada possível. Contamos com um rico e extenso acervo, são obras raras, de referências (dicionários, enciclopédia, anuários, bibliografias, índices, atlas) e obras de autores do Rio Grande do Norte.
A biblioteca recebe o nome de Peregrino Júnior, médico, jornalista, escritor e acadêmico, no intuito de homenageá-lo, tanto por sua trajetória de vida, quanto por ter sido um dos principais doadores de livros à instituição, contribuindo na formação de coleção e acervo. A Biblioteca Peregrino Júnior funciona no turno matutino, das 7h às 13h, temos atendido sócios, pesquisadores, estudantes e público em geral. Desenvolvemos diariamente o trabalho técnico da biblioteca, como a digitalização de materiais bibliográficos, classificação, catalogação e organização do acervo e a conservação de materiais (reparos em livros danificados). Nosso corpo técnico de funcionários conta com três bibliotecários.
Disponham!
REFERÊNCIAS
30/03/2022
24/03/2022
O PARAÍSO PERDIDO
Valério Mesquita*
Mesquita.valerio@gmail.com
Aprendi nos
compêndios de geografia no Colégio Marista que “o Brasil é um país
essencialmente agrícola”. Essa teoria mudou radicalmente nesses últimos 60
anos. Principalmente no Nordeste, grande produtor de cana de açúcar, banana,
algodão, milho, feijão, mandioca, etc. Particularizando o Rio Grande do Norte,
podemos dizer, sem medo de errar, que o produtor rural está falido.
Quem faliu a
atividade agrícola? Ora, o Governo Federal, através dos seus próprios
instrumentos: o Ministério da Agricultura, os juros bancários e o calote das
usinas de açúcar aos produtores de cana.
O produtor rural é
hoje um refém permanente dos bancos oficiais. Além das dívidas padecem as
dúvidas do tempo, da ausência de uma política agrícola definida que objetive a
produtividade. Quem cair na arapuca do empréstimo agrícola em banco do governo
se arrisca a perder a propriedade. Nesses tempos alternativos, para sair do
buraco, ou o proprietário rural faz acordo com os sem terra para invadirem sua
propriedade, ou, quem tem nome/sobrenome arranja um gancho de um financiamento
a fundo perdido, tipo “reflorestamento”, que já salvou, pelo “ladrão”, muita
gente boa. O mais, ser produtor rural é padecer num paraíso perdido.
E a SUDENE?
Pergunta um idiota chapado. Evadiu-se nas vagas vazias e vadias da
incredibilidade, da inconsequência e da incompetência. Morreu de inanição sem
se aperceber que a próxima crise mundial será a da escassez de alimento. No Rio
Grande do Norte, se não fosse o programa do leite todos os produtores rurais,
sem exceção, já teriam se enforcado. Desde o Governo Sarney, quando foi extinto
o subsídio agrícola a atividade rural nesse país entrou em colapso. Na ANORC
(Associação Norte-Rio-Grandense de Criadores) ou fora dela, a maioria dos
agropecuaristas está vendendo o rebanho para pagar o banco. Para se viver
honestamente, tirar da terra o sustento, acreditar que somos essencialmente um
país agrícola, sem bandalheira, sem maracutaía, sem empréstimos dadivosos a
fundo perdido com o dinheiro do contribuinte, o que fazer? Só há dinheiro para
a atividade industrial urbana, fábricas, pólo-gás-sal, etc., e o campo vai se
esvaziando, se erodindo...
Dir-se-á que o país
todo se urbaniza e as propriedades rurais vão ficar mesmo para os sem-terras
que irão se decepcionar e constatar que o trabalho agrícola é mesmo uma
atividade marginal nesse país. Aí virá o Evangelho e Cristo dirá novamente:
“Naquele tempo...”. O Nordeste será a Galiléia.
(*) Escritor.
10/03/2022
RELEMBRANDO
TICIANO DUARTE
Valério
Mesquita*
Mesquita.valerio@gmail.com
Certos homens adquirem uma visibilidade
tão marcante em seu campo de atuação que se tornam imprescindíveis aos seus
contemporâneos, na medida em que suas opiniões e convicções passam a determinar
modos de ver e de interpretar os acontecimentos da vida social. É que aos olhos
deles nada daquilo que importa passa ao largo.
Assim vejo e identifico o meu primo-irmão
Ticiano Duarte. Desde a antiga Rua 13 de Maio, depois Princesa Isabel, quando o
conheci efetivamente e melhor, lá pelos idos de 1950. De 1954, em diante, fui
revê-lo na Rua Voluntários da Pátria, no 722, Cidade Alta, telefone 2901. Ele
era já expressão do “bate-papo” no Grande Ponto, seu fiel ancoradouro, onde se
tornara notário público e destemido navegante das ruas e avenidas da política
potiguar. Bacharel em Direito da Faculdade de Maceió, tornou-se decano do
jornalismo da imprensa potiguar, atividade da qual desfrutou de ilibada
notoriedade por sua isenção e imparcialidade nos juízos dos acontecimentos da
política. Seumemorialismo ganhava ritmo de crônica e embasamento de
historiador. Em seus escritos é possível intuir aquele saber de experiências,
traço que distingue o verdadeiro homem de visão de um mero prestidigitador de quimeras.
Foi presença fecunda na imprensa
norte-rio-grandense. A colaboração de Ticiano Duarte para a Tribuna do Norte
rendeu, numa primeira seleção, o livro “Anotações do meu caderno” (Z
Comunicação/Sebo Vermelho, 2000), reunindo os principais fatos políticos dos
últimos 70 anos do século passado no Rio Grande do Norte. A precisão das
análises, a escolha dos protagonistas, a evolução dos acontecimentos e o
retrospecto dos episódios que marcaram profundamente as vicissitudes da
política potiguar encontraram ali o seu cronista mais atento e informado,
imparcial e verdadeiro. Nesse livro, objetivamente intitulado “No chão dos
perrés e pelabuchos”, avultam as mesmas qualidades que consagraram “Anotações
do meu caderno”, com a única diferença de que agora ele se deteve com mais
vagar na descrição de perfis e na análise comparativa dos fatos, mesmo
separados por décadas. Vultos inesquecíveis da vida pública estadual, como
Djalma Maranhão, Georgino Avelino, Café Filho, Aluízio Alves, Odilon Ribeiro
Coutinho (“mistura de tabajara e potiguar”), Tales Ramalho (“paraibano por
acidente, norte-rio-grandense pelas grandes ligações familiares, e pernambucano
por adoção”) são algumas das estrelas de primeira grandeza dessa constelação de
escol. Cronista, para quem a política não pode se dissociar da ética, sob pena
de naufragar nos desmandos de governantes e correligionários, Ticiano fez o
elogio dos políticos exemplares perfilando a figura de Café Filho porque,
justifica, “o povo espera dos homens públicos exemplos. E alguém disse, com
muita propriedade, que o importante não é só pregar moral apenas para os
outros, censurando nos outros o que silencia entre amigos e parceiros”. Ao
fazer o elogio da lealdade e da coerência, ele retirou do limbo o nome de
Walfredo Gurgel, ressaltando que “o seu governo foi um exemplo de seriedade no
trato e na gestão da coisa pública. Todo o Rio Grande do Norte sabe desta
grande verdade, mesmo seus adversários não podem omiti-la, por mais que o
tenham combatido no campo das ideias e das diferenças partidárias”.
Em “No chão dos perrés e pelabuchos” ainda
é possível encontrar silhuetas de políticos esquecidos pela História, mas
preservados, por exemplo, numa Acta Diurna de Luís da Câmara Cascudo, como
Hermógenes José Barbosa Tinoco, deputado do Partido Liberal que a voragem do
tempo soterrou; os entreveros entre pelabuchos e perrés que incendiaram o paiol
das agremiações políticas dos anos 1930, que não escaparam à argúcia focada por
Ticiano sobre os atores da nossa história.
Ele propõe e reforça as teses daqueles que
defendem a necessidade de uma urgente reforma política a fim de repor o país
nos trilhos da ética e inaugurar uma nova era na vida política brasileira. O
seu olhar espelha nesse livro o brilho e a lucidez dos seus brancos cabelos, como
testemunhos da vida e do mundo.
(*) Escritor
WALTER, SOUTINHO E O CAMINHAR DA VIDA
Tomislav R.
Femenick
– Jornalista
No
longínquo ano de 1955, eu e o meu amigo Walter Gomes inventamos de abrir uma
agência de publicidade em Mossoró. Ambos trabalhávamos no jornal O Mossoroense,
dirigido pelo “velho” Lauro da Escossia e seu filho Lauro Filho. Eu, como
repórter, e ele, com uma coluna diária que misturava tudo: crônica social,
política, negócios etc. Só não falava de casos policiais. Dizia que dava azar.
Então resolvemos encontrar um meio de ganhar alguns trocados a mais, publicando
cadernos especiais. Dessa ideia saíram edições sobre indústria, comércio,
agricultura e administração pública.
Nos reuníamos nas
mesas do Bar Suez, da ACDP e, vez ou outra, nos cabarés Brahma e Copacabana. As
ideias que ali nasciam precisavam ser aprovadas por Lauro Filho, que geralmente
aceitava nossas sugestões. Só me lembro de um veto: um lançamento que propusemos
de um caderno sobre a vida alegre no Alto Louvor, o bairro do alto meretrício. Além de escrever os
textos, nós tínhamos que conseguir os anúncios. Aí é que nós ganhávamos uma
comissão, sobre o faturamento dos anúncios.
Um ano depois, nós, eu e Walter
Gomes, resolvemos institucionalizar o negócio e criamos a Propag; se não a
primeira, seguramente a segunda empresa de publicidade do Estado, com registro
na Junta Comercial, endereço, instalações, telefone (na época um artigo de
luxo), secretária e outras coisas mais. O problema era que não tínhamos
dinheiro para isso tudo. Fomos para o Bar Suez para ruminar a solução. De
repente, junta-se a nós um cidadão de quem não me lembro o nome, e resolveu a
questão, dizendo: “homem de dinheiro em
Mossoró é Soutinho”. Não dissemos nada, mas ficamos olhando um para o
outro. Logo fomos, ligeirinhos, falar com Francisco Ferreira Souto Filho, com
quem tínhamos amizade. Expusemos a nossa necessidade de grana para fundar a
empresa e, por isso, queríamos um financiamento do Banco de Mossoró, então
controlado por ele. “E se a empresa
quebrar?” – Perguntou-nos. Então viramos sócios; Eu, Walter Gomes e
Soutiho. A Propag viveu até eu fazer concurso e passar para assumir o cargo de
escriturário no Banco do Nordeste.
Mas
a vida dá muitas voltas. Walter foi para o Rio de Janeiro, voltou para Natal e
depois se instalou em Brasília, sempre perseguindo as notícias e suas fontes.
Eu pedi demissão do BNB, entrei em outros negócios e, depois, deixei minha
terra natal e fui para São Paulo, afastei-me do jornalismo e entrei de cabeça
no mundo dos altos negócios, via auditoria contábil, econômica e
administrativa. Uma vez recebi sua visita em meu escritório na Av. Paulista e
ele foi jantar na minha casa. Quando eu ia à Brasília, também o visitava.
Quanto a Soutinho a distância nos unia. Ele e Edith eram padrinhos de batismo
da minha filha. Sempre que ia a Mossoró, visitava-o em sua casa, onde uma vez,
se me recordo bem, provei um impensável soverte de pitomba.
Porém,
nada é mais inexorável do que o caminhar da vida em direção à morte. Tudo o que
é vivo anda nessa direção. Desde os gigantes baobás africanos e nordestinos,
até os diminutos vírus. Um dia todos desaparecerão.
Em
poucos dias foram-se desta existência Walter, o buscador de fatos e notícias
desta “República Surrealista” do Brasil, e Soutinho, o realizador e desbravador
das lides salineiras. Um perseguia os homens que fazem as leis, que as executam
e, também, que impõem o seu cumprimento. O outro buscava fazer com que o sal se
transformasse em uma riqueza da nossa terra, fazer com que o nosso se
transformasse no sal da nossa vida.
O
que nos entristece, mais ainda, é viver em uma época de tantos homens sem
serventia e ver que, logo eles, homens de valor exemplar, tenham nos deixado.
Tribuna do Norte. Natal, 10 mar. 2022.