19/09/2025

Vem aí a segunda edição da Caminhada da Memória, com o tema: o rio Potengi

No sábado, 27 de setembro, o IHGRN abre suas portas para a 19ª Primavera dos Museus, a programação envolve lançamento de exposições, visitas guiadas ao Museu Clara Soares, apresentação musical e a segunda edição da Caminhada da Memória.



A nova edição "Caminhada da Memória: o Rio que fala, o Mangue que respira" traz como tema o rio Potengi, elemento central na história e no desenvolvimento da cidade do Natal. Percorreremos as ruas da Cidade Alta até um encontro com o rio Potengi. A caminhada finaliza no IHGRN com a apresentação do grupo Folia de Rua Potiguar, que irá representar a cultura popular através da música.

SERVIÇO
Caminhada da Memória: O Rio que fala, o Mangue que respira
Quando: 27 de setembro, sábado
Horário: Início às 10h
Local: Saída no Largo do IHGRN (Rua da Conceição, 622, Cidade Alta).
Entrada gratuita. Inscreva-se aqui.

10/06/2025

POR DENTRO DA BAM: O dia a dia e os bastidores dos projetos da Casa da Memória | 9ª Semana Nacional de Arquivos

    Neste vídeo especial que inaugura a série da 9ª Semana Nacional de Arquivos (SNA), o Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte (IHGRN) convida o público a conhecer os bastidores da Casa da Memória, espaço vital para a preservação da história e da cultura potiguar. 

    Com apresentação do Diretor de Acervo, Matheus Pereira, e da Diretora Adjunta de Acervo, Mara Gabrielly, exploramos o dia a dia da instituição, os projetos em andamento, os planos futuros e o compromisso contínuo com a valorização da memória histórica.

    O vídeo também conta com a participação dos colaboradores Marcus Vitor, Franklin Lima e Luis Eduardo, que compartilham suas experiências nas atividades desenvolvidas na biblioteca e no museu.
Este é o primeiro episódio de uma série que visa aproximar o público das ações e projetos realizados pelo IHGRN durante a 9ª SNA e ao longo do ano.

Inscreva-se no canal do IHGRN e ative as notificações para acompanhar esta série e ficar por dentro de novas iniciativas da Casa da Memória.


09/04/2025

O DIA NACIONAL DA BIBLIOTECA



 O DIA NACIONAL DA BIBLIOTECA



Marcus Victor Siqueira Josuá Gomes

Graduado em Biblioteconomia e mestrando em Ciência da Informação pelo PPGCI/UFRN. Membro do Grupo de Pesquisa: Estudos Críticos em Biblioteconomia e Ciência da Informação (ECBCI/UFRN). Bibliotecário do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte (IHGRN).



“A história da biblioteca é a história do registro da informação, sendo impossível destacá-la de um conjunto amplo: a própria história do homem” 

(Milanesi, 1983, p. 16)


No dia 9 de abril se comemora o Dia Nacional da Biblioteca, em razão do Decreto n.º 84.631 de 9 de abril de 1980, que foi responsável por consagrar a Semana Nacional do Livro e da Biblioteca no mês de outubro, assinado pelo então presidente João Figueiredo. O dia 9 de abril, data do decreto, passou tradicionalmente a ser comemorado como o Dia Nacional da Biblioteca. A importante data reflete um momento de celebração e reverência a esses espaços, que são, sobretudo, responsáveis pela democratização do acesso à informação. Bem como, na construção do pensamento crítico dos sujeitos, uma vez que ao se apropriar do conhecimento os indivíduos provocam, em sua realidade, transformações humanas, culturais, sociais. No Brasil, o primeiro curso de Biblioteconomia surge em 1911, criado pela Biblioteca Nacional, tendo iniciado oficialmente em 10 de abril de 1915. Outro importante marco histórico de regulamentação das bibliotecas e do bibliotecário foi a Lei 4.084/1962, que dispõe sobre a profissão de bibliotecário e regula seu exercício. 

É importante ressaltar que na chamada sociedade da “pós-verdade” (ou o que alguns autores chamam de “infodemia”), em que se arrefece cada vez mais a checagem das informações e se promove a disseminação de desinformação e fake news, as bibliotecas e os bibliotecários são fundamentais no combate dessas práticas, pois promovem reflexão e uso crítico das informações em qualquer ambiente, os pesquisadores Edmir Perrotti e Ivete Pieruccini acreditam que o antídoto a esse nova realidade está no que chamam de Infoeducação (Perrotti; Pieruccini, 2007), isto é,  uma prática biblioteconômica que “pretende   ser   reflexiva   e   compromissada   com  a formação  de  seres  autônomos,  críticos  e  criativos [...], que  lhes  permite  escolher  posições  e  relações  a  serem estabelecidas  com a ‘era da informação’” (Perrotti, 2017, p. 16). Segundo o pesquisador e professor Oswaldo de Almeida Júnior (2016), o objeto da Biblioteconomia é a mediação da informação, portanto, cabe às bibliotecas o papel de não somente guardar e organizar o material bibliográfico, mas também, disseminar, interagir, criar, refletir. O autor e acadêmico mexicano Felipe Meneses-Tello contribui teoricamente no mesmo sentido em que pensa Oswaldo de Almeida Júnior, ao dizer que: “em  geral,  o  objetivo  das  instituições bibliotecárias é superar o seu estado monolítico para se tornarem bibliotecas multiculturais. Instituições  que  promovem  a  justiça  social  e  o  respeito  pelos  direitos  humanos” (Meneses-Tello; Tanus, 2023, p. 6). A partir das falas dos experientes pesquisadores, podemos, então, situar a toda comunidade os desafios da Biblioteconomia diante da nossa atual sociedade.

Desse modo, a Biblioteca Peregrino Júnior, que pertence à Casa da Memória, tem como prioridade a preservação do acervo bibliográfico e arquivo, bem como a disseminação desse material para o acesso público. A nossa biblioteca passou um período fechada e, a partir de 2017 foi reativada, havendo nos anos seguintes a contratação de bibliotecários, o que contribuiu bastante para um eficiente trabalho no que diz respeito à guarda, preservação e organização de todo material informacional e histórico. O nosso acervo tem sido organizado e classificado de acordo com a Classificação Decimal Universal (CDU) – um conjunto de normas e regras reconhecidas internacionalmente que auxiliam bibliotecários e documentalistas a organizar o material da forma mais ordenada possível. Contamos com um rico e extenso acervo, são obras raras, de referências (dicionários, enciclopédia, anuários, bibliografias, índices, atlas) e obras de autores do Rio Grande do Norte. 

A biblioteca recebe o nome de Peregrino Júnior, médico, jornalista, escritor e acadêmico, no intuito de homenageá-lo, tanto por sua trajetória de vida, quanto por ter sido um dos principais doadores de livros à instituição, contribuindo na formação de coleção e acervo. A Biblioteca Peregrino Júnior funciona no turno matutino, das 7h às 13h, temos atendido sócios, pesquisadores, estudantes e público em geral. Desenvolvemos diariamente o trabalho técnico da biblioteca, como a digitalização de materiais bibliográficos, classificação, catalogação e organização do acervo e a conservação de materiais (reparos em livros danificados). Nosso corpo técnico de funcionários conta com três bibliotecários. 

Disponham!


REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Marco Antonio de. Oswaldo Francisco de Almeida Júnior. InCID: Revista de Ciência da Informação e Documentação, Ribeirão Preto, Brasil, v. 7, n. 1, p. 201–217, 2016. DOI: 10.11606/issn.2178-2075.v7i1p201-217. Disponível em: https://revistas.usp.br/incid/article/view/113824.. Acesso em: 9 abr. 2025. MENESES-TELLO, F.; TANUS, G. F. de S. C. Biblioteconomia social e práticas sociais em bibliotecas e salas de aula: entrevista com o bibliotecário e professor Felipe Meneses-Tello. Revista Informação na Sociedade Contemporânea, [s. l.], v. 7, n. 1, p. e34238, 2023. DOI: 10.21680/2447-0198.2023v7n1ID34238. Disponível em: https://periodicos.ufrn.br/informacao/article/view/34238. Acesso em: 10 abr. 2025. MILANESI, Luis. O que é biblioteca? São Paulo: Brasiliense, 1983. PERROTTI, Edmir. Infoeducação: um passo além científico-profissional. Informação@Profissões, [s. l.], v. 5, n. 2, p. 05–31, 2017. DOI: 10.5433/2317-4390.2016v5n2p05. Disponível em: https://ojs.uel.br/revistas/uel/index.php/infoprof/article/view/28314. Acesso em: 9 abr. 2025. PERROTTI, Edmir; PIERUCCINI, Ivete. Infoeducação: saberes e fazeres da contemporaneidade. In: LARA, M. L. G.; FUGINO, A.; NORONHA, D.P. Informação e contemporaneidade: perspectivas. Recife: Néctar, 2007. p.46-95. Disponível em: https://www.eca.usp.br/acervo/producao-academica/001826107.pdf. Acesso em: 13 maio 2023.

30/03/2022

 





INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO
DO RIO GRANDE DO NORTE

    Tenho a honra e a satisfação de registrar a magnífica solenidade ontem realizada na sede da OAB/RN, comemorativa dos 120 do IHGRN, a posse da nova Diretoria e dos novos sócios efetivos e "honoris causa", estes entregues às personalidades da Governadora Fátima Bezerra e Prefeito Álvaro Dias.
    Presença de muitas autoridades e de público que lotou o auditório onde a solenidade aconteceu.
    Agora, começamos uma nova história, sob o comando da Primeira mulher que preside a Casa da Cultura, advogada JOVENTINA SIMÕES DE OLIVEIRA.
    Parabenizo a organização, os discursos bem desenvolvidos, com especial destaque para a despedida de ORMUZ BARBALHO SIMONETTI e da empossada.
    Considerando a modernização da vetusta Entidade, entendo que não faz mais sentido a continuidade deste BLOG, que já registra um número considerável de acesso, ou seja: 332.106.
    Agradeço a todos aqueles que foram leitores deste meio de informação e os remeto a seguir o próprio site do Instituto.
Um grande abraço deste amigo que conduziu o Blog do IHGRN por muitos anos. 

24/03/2022

 

O PARAÍSO PERDIDO

 

Valério Mesquita*

Mesquita.valerio@gmail.com

 

Aprendi nos compêndios de geografia no Colégio Marista que “o Brasil é um país essencialmente agrícola”. Essa teoria mudou radicalmente nesses últimos 60 anos. Principalmente no Nordeste, grande produtor de cana de açúcar, banana, algodão, milho, feijão, mandioca, etc. Particularizando o Rio Grande do Norte, podemos dizer, sem medo de errar, que o produtor rural está falido.

Quem faliu a atividade agrícola? Ora, o Governo Federal, através dos seus próprios instrumentos: o Ministério da Agricultura, os juros bancários e o calote das usinas de açúcar aos produtores de cana.

O produtor rural é hoje um refém permanente dos bancos oficiais. Além das dívidas padecem as dúvidas do tempo, da ausência de uma política agrícola definida que objetive a produtividade. Quem cair na arapuca do empréstimo agrícola em banco do governo se arrisca a perder a propriedade. Nesses tempos alternativos, para sair do buraco, ou o proprietário rural faz acordo com os sem terra para invadirem sua propriedade, ou, quem tem nome/sobrenome arranja um gancho de um financiamento a fundo perdido, tipo “reflorestamento”, que já salvou, pelo “ladrão”, muita gente boa. O mais, ser produtor rural é padecer num paraíso perdido.

E a SUDENE? Pergunta um idiota chapado. Evadiu-se nas vagas vazias e vadias da incredibilidade, da inconsequência e da incompetência. Morreu de inanição sem se aperceber que a próxima crise mundial será a da escassez de alimento. No Rio Grande do Norte, se não fosse o programa do leite todos os produtores rurais, sem exceção, já teriam se enforcado. Desde o Governo Sarney, quando foi extinto o subsídio agrícola a atividade rural nesse país entrou em colapso. Na ANORC (Associação Norte-Rio-Grandense de Criadores) ou fora dela, a maioria dos agropecuaristas está vendendo o rebanho para pagar o banco. Para se viver honestamente, tirar da terra o sustento, acreditar que somos essencialmente um país agrícola, sem bandalheira, sem maracutaía, sem empréstimos dadivosos a fundo perdido com o dinheiro do contribuinte, o que fazer? Só há dinheiro para a atividade industrial urbana, fábricas, pólo-gás-sal, etc., e o campo vai se esvaziando, se erodindo...

Dir-se-á que o país todo se urbaniza e as propriedades rurais vão ficar mesmo para os sem-terras que irão se decepcionar e constatar que o trabalho agrícola é mesmo uma atividade marginal nesse país. Aí virá o Evangelho e Cristo dirá novamente: “Naquele tempo...”. O Nordeste será a Galiléia.

 

(*) Escritor.

 

10/03/2022

 

RELEMBRANDO TICIANO DUARTE

 

Valério Mesquita*

Mesquita.valerio@gmail.com

 

Certos homens adquirem uma visibilidade tão marcante em seu campo de atuação que se tornam imprescindíveis aos seus contemporâneos, na medida em que suas opiniões e convicções passam a determinar modos de ver e de interpretar os acontecimentos da vida social. É que aos olhos deles nada daquilo que importa passa ao largo.

Assim vejo e identifico o meu primo-irmão Ticiano Duarte. Desde a antiga Rua 13 de Maio, depois Princesa Isabel, quando o conheci efetivamente e melhor, lá pelos idos de 1950. De 1954, em diante, fui revê-lo na Rua Voluntários da Pátria, no 722, Cidade Alta, telefone 2901. Ele era já expressão do “bate-papo” no Grande Ponto, seu fiel ancoradouro, onde se tornara notário público e destemido navegante das ruas e avenidas da política potiguar. Bacharel em Direito da Faculdade de Maceió, tornou-se decano do jornalismo da imprensa potiguar, atividade da qual desfrutou de ilibada notoriedade por sua isenção e imparcialidade nos juízos dos acontecimentos da política. Seumemorialismo ganhava ritmo de crônica e embasamento de historiador. Em seus escritos é possível intuir aquele saber de experiências, traço que distingue o verdadeiro homem de visão de um mero prestidigitador de quimeras.

Foi presença fecunda na imprensa norte-rio-grandense. A colaboração de Ticiano Duarte para a Tribuna do Norte rendeu, numa primeira seleção, o livro “Anotações do meu caderno” (Z Comunicação/Sebo Vermelho, 2000), reunindo os principais fatos políticos dos últimos 70 anos do século passado no Rio Grande do Norte. A precisão das análises, a escolha dos protagonistas, a evolução dos acontecimentos e o retrospecto dos episódios que marcaram profundamente as vicissitudes da política potiguar encontraram ali o seu cronista mais atento e informado, imparcial e verdadeiro. Nesse livro, objetivamente intitulado “No chão dos perrés e pelabuchos”, avultam as mesmas qualidades que consagraram “Anotações do meu caderno”, com a única diferença de que agora ele se deteve com mais vagar na descrição de perfis e na análise comparativa dos fatos, mesmo separados por décadas. Vultos inesquecíveis da vida pública estadual, como Djalma Maranhão, Georgino Avelino, Café Filho, Aluízio Alves, Odilon Ribeiro Coutinho (“mistura de tabajara e potiguar”), Tales Ramalho (“paraibano por acidente, norte-rio-grandense pelas grandes ligações familiares, e pernambucano por adoção”) são algumas das estrelas de primeira grandeza dessa constelação de escol. Cronista, para quem a política não pode se dissociar da ética, sob pena de naufragar nos desmandos de governantes e correligionários, Ticiano fez o elogio dos políticos exemplares perfilando a figura de Café Filho porque, justifica, “o povo espera dos homens públicos exemplos. E alguém disse, com muita propriedade, que o importante não é só pregar moral apenas para os outros, censurando nos outros o que silencia entre amigos e parceiros”. Ao fazer o elogio da lealdade e da coerência, ele retirou do limbo o nome de Walfredo Gurgel, ressaltando que “o seu governo foi um exemplo de seriedade no trato e na gestão da coisa pública. Todo o Rio Grande do Norte sabe desta grande verdade, mesmo seus adversários não podem omiti-la, por mais que o tenham combatido no campo das ideias e das diferenças partidárias”.

Em “No chão dos perrés e pelabuchos” ainda é possível encontrar silhuetas de políticos esquecidos pela História, mas preservados, por exemplo, numa Acta Diurna de Luís da Câmara Cascudo, como Hermógenes José Barbosa Tinoco, deputado do Partido Liberal que a voragem do tempo soterrou; os entreveros entre pelabuchos e perrés que incendiaram o paiol das agremiações políticas dos anos 1930, que não escaparam à argúcia focada por Ticiano sobre os atores da nossa história.

Ele propõe e reforça as teses daqueles que defendem a necessidade de uma urgente reforma política a fim de repor o país nos trilhos da ética e inaugurar uma nova era na vida política brasileira. O seu olhar espelha nesse livro o brilho e a lucidez dos seus brancos cabelos, como testemunhos da vida e do mundo.

(*) Escritor

 

 


 

WALTER, SOUTINHO E O CAMINHAR DA VIDA

Tomislav R. Femenick – Jornalista

 

No longínquo ano de 1955, eu e o meu amigo Walter Gomes inventamos de abrir uma agência de publicidade em Mossoró. Ambos trabalhávamos no jornal O Mossoroense, dirigido pelo “velho” Lauro da Escossia e seu filho Lauro Filho. Eu, como repórter, e ele, com uma coluna diária que misturava tudo: crônica social, política, negócios etc. Só não falava de casos policiais. Dizia que dava azar. Então resolvemos encontrar um meio de ganhar alguns trocados a mais, publicando cadernos especiais. Dessa ideia saíram edições sobre indústria, comércio, agricultura e administração pública.

Nos reuníamos nas mesas do Bar Suez, da ACDP e, vez ou outra, nos cabarés Brahma e Copacabana. As ideias que ali nasciam precisavam ser aprovadas por Lauro Filho, que geralmente aceitava nossas sugestões. Só me lembro de um veto: um lançamento que propusemos de um caderno sobre a vida alegre no Alto Louvor, o bairro do alto meretrício. Além de escrever os textos, nós tínhamos que conseguir os anúncios. Aí é que nós ganhávamos uma comissão, sobre o faturamento dos anúncios.

            Um ano depois, nós, eu e Walter Gomes, resolvemos institucionalizar o negócio e criamos a Propag; se não a primeira, seguramente a segunda empresa de publicidade do Estado, com registro na Junta Comercial, endereço, instalações, telefone (na época um artigo de luxo), secretária e outras coisas mais. O problema era que não tínhamos dinheiro para isso tudo. Fomos para o Bar Suez para ruminar a solução. De repente, junta-se a nós um cidadão de quem não me lembro o nome, e resolveu a questão, dizendo: “homem de dinheiro em Mossoró é Soutinho”. Não dissemos nada, mas ficamos olhando um para o outro. Logo fomos, ligeirinhos, falar com Francisco Ferreira Souto Filho, com quem tínhamos amizade. Expusemos a nossa necessidade de grana para fundar a empresa e, por isso, queríamos um financiamento do Banco de Mossoró, então controlado por ele. “E se a empresa quebrar?” – Perguntou-nos. Então viramos sócios; Eu, Walter Gomes e Soutiho. A Propag viveu até eu fazer concurso e passar para assumir o cargo de escriturário no Banco do Nordeste.        

Mas a vida dá muitas voltas. Walter foi para o Rio de Janeiro, voltou para Natal e depois se instalou em Brasília, sempre perseguindo as notícias e suas fontes. Eu pedi demissão do BNB, entrei em outros negócios e, depois, deixei minha terra natal e fui para São Paulo, afastei-me do jornalismo e entrei de cabeça no mundo dos altos negócios, via auditoria contábil, econômica e administrativa. Uma vez recebi sua visita em meu escritório na Av. Paulista e ele foi jantar na minha casa. Quando eu ia à Brasília, também o visitava. Quanto a Soutinho a distância nos unia. Ele e Edith eram padrinhos de batismo da minha filha. Sempre que ia a Mossoró, visitava-o em sua casa, onde uma vez, se me recordo bem, provei um impensável soverte de pitomba.  

Porém, nada é mais inexorável do que o caminhar da vida em direção à morte. Tudo o que é vivo anda nessa direção. Desde os gigantes baobás africanos e nordestinos, até os diminutos vírus. Um dia todos desaparecerão.

Em poucos dias foram-se desta existência Walter, o buscador de fatos e notícias desta “República Surrealista” do Brasil, e Soutinho, o realizador e desbravador das lides salineiras. Um perseguia os homens que fazem as leis, que as executam e, também, que impõem o seu cumprimento. O outro buscava fazer com que o sal se transformasse em uma riqueza da nossa terra, fazer com que o nosso se transformasse no sal da nossa vida.

O que nos entristece, mais ainda, é viver em uma época de tantos homens sem serventia e ver que, logo eles, homens de valor exemplar, tenham nos deixado.

 

Tribuna do Norte. Natal, 10 mar. 2022.