O PRINCÍPIO DA QUALIDADE
Públio José – jornalista
                            Os
 consultores, os entendidos em marketing, em processos industriais, os 
profissionais de venda, todos, enfim, envolvidos com a produção e a 
comercialização de produtos e serviços sabem que a qualidade é 
fundamental. Parafraseando Vinicius de Morais – que em certa ocasião 
falou “que me desculpem as feias, mas beleza é fundamental” – eu chego a
 afirmar: que me desculpem os produtos que não têm qualidade, mas 
qualidade é fundamental. Em tudo. Nas embalagens, na apresentação, no 
marketing, na assistência técnica e, principalmente agora, no que 
concerne à responsabilidade social e ao respeito ao meio ambiente. Todos
 esses passos têm que ser dados com qualidade. Chego até a ir mais além.
 Nos relacionamentos, no trabalho, em família, no que você produz, na 
palavra empenhada, no estilo de vida, a qualidade também se faz 
necessária, inclusive com o mesmo rigor da praticada no mundo dos 
negócios.
                       
 Alguém certamente irá pensar ser absolutamente óbvio o que estou 
dizendo. Entretanto, apesar da qualidade ser um princípio lógico, óbvio 
até demais, sua execução e sua prática deixam muito a desejar. Vejamos, 
por exemplo, os homens públicos. Quando agem movidos por estímulos 
ligados à corrução, estão agindo, com certeza, fora do princípio da 
qualidade. Pois a qualidade, no tocante ao desempenho de um homem 
público, significa, entre outros procedimentos, a prática constante da 
honestidade no manuseio do dinheiro alheio e a resistência a todo tipo 
de tentação que o induza a meter a mão naquilo que não é seu. Como se 
vê, o homem público também tem seu desempenho analisado sob a ótica da 
qualidade no que faz e no que produz, obrigação, aliás, a que todos eles
 estão sujeitos quando se dispõem a trabalhar em cargo público ou quando
 submetem seu nome, numa eleição, ao julgamento do eleitorado.
                       
 Do mesmo modo, o funcionário público, estando ali para servir, por isso
 mesmo chamado, apropriadamente, de servidor, também deve se submeter ao
 princípio da qualidade no serviço que presta à população. Entretanto, 
na realidade, o que se vê por esse Brasil afora? Tanto no que diz 
respeito ao comportamento dos homens públicos, como ao dos servidores 
estatais? No caso dos primeiros, um desprezo quase total às pessoas de 
quem mereceu o voto (afinal, uma procuração baseada na confiança), e, no
 caso dos segundos, uma má vontade no atendimento ao público de causar 
arrepios, aliada a um despreparo funcional gritante – com honrosas 
exceções, graças a Deus. Para essas pessoas, afinal, o que significa o 
princípio da qualidade? O que representa para elas estarem numa posição 
propícia à prática do bem comum e ao encaminhamento de soluções para 
problemas que afligem milhares e milhares de pessoas?
                       
 Pensando bem, a essas pessoas faltam, na verdade, o crédito e a prática
 do amor e da misericórdia. Aliás, os mesmos sentimentos, os mesmos 
princípios para os quais Jesus Cristo tanto se sacrificou para que deles
 tomássemos conhecimento. Falando em Jesus, a respeito do princípio da 
qualidade, ele nos dá uma grande lição na célebre passagem das bodas de 
Caná, conforme está escrito no livro de João, capítulo 2, versículo 1 ao
 11. Trata-se da transformação, ocorrida em um casamento, da água em 
vinho. Na efervescência da festa, o vinho acabou, fato gerador de um 
desconforto enorme ao responsável pelas bodas. Procurado, Jesus salva a 
situação, transformando água em vinho. Entretanto, há que se ressaltar, 
no episódio, o compromisso de Jesus com a qualidade, com o rigor do 
produto a ser oferecido. Havia um profissional contratado para organizar
 a festa, que aprovou entusiasmado a qualidade do vinho que antes fora 
água.
                       
 Seu comentário de que “todos costumam pôr primeiro o bom vinho e, 
quando já beberam fartamente, servem o inferior”, marca, profundamente, a
 diferença do conceito de qualidade para Jesus (“tu, porém guardaste o 
bom vinho até agora”) e o mesmo conceito na visão dos homens. Pois o 
noivo, mesmo tendo na festa pessoas importantes na sua escala de 
interesses, ainda tentou iludi-las com vinho de boa qualidade no início,
 para, posteriormente, enganá-las com uma bebida de qualidade inferior. 
Infelizmente, esse é o típico comportamento humano. Que cumula de 
gentilezas as pessoas segundo o retorno que delas terão, passando a 
tratá-las de forma diferente quando for incerto o retorno da vantagem. 
Essa não é postura de qualidade. O princípio da qualidade, segundo 
Jesus, deve ser exercitado antes, durante e depois de qualquer 
relacionamento. Até para aquele que você julga não ser merecedor de um 
gesto seu – de qualidade.
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