HOSPITAL PORTA FECHADA – Berilo de Castro
HOSPITAL PORTA FECHADA –
Nesses quase cinquenta anos de atividade 
médica, acompanhei, presenciei e testemunhei seus grandes avanços, em 
sua ininterrupta estrada de conquistas científicas. Avanços na área de 
genética; novas e fantásticas técnicas de diagnósticos;
 avanços extraordinários na área farmacológica; nos aprimoramentos 
cirúrgicos; o avanço espetacular nos transplantes de órgãos, mais 
recentemente a imunoterapia ( Prêmio Nobel – 2018), enfim, uma 
interminável e benéfica evolução nessa bela e admirável arte
 de curar.
Por outro lado, é bem notório que todos esses
 importantes e inquestionáveis avanços não chegam a maioria da 
população: a pobre, a necessitada. Ficam retidos e são de uso exclusivo 
das camadas sociais de maior poder aquisitivo.
A saúde pública brasileira, com o seu Sistema
 Único de Saúde (SUS), belo e eficaz (só no papel), não tem 
correspondido e, muito mais, só tem piorado na sua aplicação prática – 
faltou gestão desde o seu nascedouro.
Todos os dias, somos não mais surpreendidos 
com situações as mais caóticas em os todos os rincões nacionais. O 
descaso, a indiferença, a ausência dos governos vêm dia a dia ocupando e
 fazendo mais vítimas nos hospitais públicos.
Hoje, para um cidadão comum conseguir uma 
simples consulta, um exame de sangue, um exame de imagem, nem pensar! 
Vai ter que esperar uma infinidade de tempo. Um internamento para uma 
cirurgia nem pensar. Aí o bicho pega! Entra em
 uma fila interminável. Quando, já cansado de tanto esperar, chega a sua
 vez; os exames pré-operatórios realizados já estão caducos, não servem 
mais. Aí começa tudo outra vez. É uma brincadeira de mal gosto, uma 
ciranda desumana e cruel.
Os responsáveis administradores públicos, 
vivenciando a situação, anunciam medidas midiáticas: mutirão disso, 
mutirão daquilo, revelando a inércia e o não compromisso com a saúde 
pública: – usando a máxima do “quanto mais, melhor”.
 Deixa aumentar a fila!
E agora, recentemente, inventaram o que eles denominam – Hospital porta fechada. Que coisa louca! Que horror! O que significa?
“Fechar” a porta do maior e único hospital 
público de urgências e emergências do Estado. Vamos explicar: em 
determinado momento (dos mais cruéis), sem aviso prévio, como em um 
passe de mágica, o maior hospital da região “fecha a
 sua porta” e passa a escolher os seus pacientes. “Aqui, agora só entra 
paciente traumatizado e/ou portador de acidente vascular cerebral”. 
Vejam só o vexame daqueles que necessitam e procuram o Hospital. Chegam 
ao nosocômio de referência com a certeza do atendimento
 e são rejeitados; são orientados a procurar uma Unidade de Pronto 
Atendimento (UPA) mais próxima da sua localidade. Muitos desses doentes 
já sem nenhuma condição financeira e física de se locomoverem. E mais, 
são encaminhados para Unidades de Saúde, onde se
 sabe que não funcionam a contento. São precárias em todos os seus 
aspectos. Pior ainda para aqueles que vêm do interior do Estado, que são
 orientados a voltar para seu lugar de origem. Vejam só que confusão e 
que humilhação! É desumano ou não é?
Entendo que Hospital porta fechada caberia 
muito bem para situações onde os serviços públicos situados na periferia
 da cidade funcionassem de verdade; que existisse no Estado, polos 
regionais de Saúde bem estruturados, onde se realizassem
 cirurgias de menores portes e riscos, equipados de UTI. Um bom e 
eficiente serviço de traumatologia e ortopedia. Enfim, com uma 
competente e fixa equipe médica. Aí, sim, poderíamos muito bem escolher 
os doentes por tipo de doença e gravidade. Caso contrário,
 vamos continuar aumentando as nossas intermináveis, sofredoras e cruéis
 filas de doentes esperando os novos e mais novos mutirões da vida.
Piorou muito para a população pobre, a massa maior do nosso país.
Abram as portas dos hospitais públicos!
Berilo de Castro –
Médico e Escritor – 
berilodecastro@hotmail.com.br




